quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sem seguro automotivo, pedreiro perde carro após 24h da compra

Depois de juntar dinheiro por vários anos e comprar o veículo à vista, o sonho se transformou num pesadelo
Repórteres – Abidias Martins e Luciano Amorim – UFAL

Carro rodou na pista e bateu no muro da oficina. Foto: Cortesia


O sonho do carro próprio do pedreiro José Paulo Silva dos Santos, de 33 anos, durou apenas 24 horas. O trabalhador comprou um Fiat Uno, ano 2006, por 11 mil reais, no dia nove de abril de 2014. O veículo não possuía seguro automotivo. E o pior aconteceu. Um dia após a compra, pela manhã, Paulo emprestou o carro para o cunhado, Joas Torres, que fazia uma viagem de São Luís do Quitunde a Maceió. O condutor perdeu o controle da direção numa ultrapassagem e bateu no muro de uma oficina, próximo ao bairro de “Pescaria”, na AL 101 Norte.

Com o impacto, a parede do imóvel caiu sobre o veículo. O sinistro deixou o carro destruído, apesar de o condutor ter sofrido apenas escoriações. O prejuízo se tornou maior, por conta do serviço de reforma da oficina, que ficou avaliado em três mil e quinhentos reais.

Paulo recebeu a notícia com muita tristeza, já que tinha esperado bastante para conquistar seu primeiro veículo. “Foram economias de muito tempo, que fiz com o dinheiro que ganho como pedreiro. Paguei à vista, e agora vou ter que arcar com o prejuízo”, lamentou.
Algumas semanas depois do acidente, o carro foi trocado por uma moto CG 125 FAN, no valor de três mil e duzentos reais. Dinheiro que mal serviu para custear a reforma da oficina.

Valdeci e a esposa, Vânia, com o novo carro. Foto: Cortesia

 
O dono anterior do Uno, o autônomo Valdeci Pedro da Silva, possuía o veículo há quase cinco anos. Ele trabalha com a venda de confecções e calçados e decidiu trocar o carro por outro mais moderno. O autônomo diz ter ficado surpreso com o acidente. “Viajo pelo menos duas vezes por mês, de Maceió para Caruaru, no estado de Pernambuco, para comprar mercadorias. A viagem é perigosa. Nunca me envolvi em nenhum acidente, mas sei que poderia ter acontecido comigo”, afirmou Valdeci.



Acidentes comuns

De acordo com Mário Dantas, escrivão da Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito de Maceió, mais de 300 inquéritos policiais foram instaurados por acidentes de trânsito, de janeiro a agosto de 2014. Mais de 200 foram causados por embriaguez ao volante e em pouco mais de 100 ocorreram mortes.

Dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), afirmam que a frota de veículos no estado de Alagoas, até o mês de agosto de 2014, entre carros e motos, era de mais de 647.000. Deste total, aproximadamente 70% transitam sem seguro automotivo.

Outro problema, que acontece nas grandes capitais, são os roubos de veículos. Carros populares como Gol e Uno são os que mais são roubados no Brasil e também em Alagoas, de acordo com divulgação da Confederação Nacional das Empresas de Seguro (Cnseg).


A necessidade do seguro

Otávio Vieira Neto. Foto: Luciano Amorim
Diante de números tão preocupantes, vem à tona a questão da necessidade do seguro automotivo. O presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros de Alagoas (Sincor-AL), Otávio Vieira Neto, destaca a importância da adesão aos planos das seguradoras, já que os benefícios são garantidos.

Em caso de incêndio, batida, chuva, desabamento etc., o proprietário de um veículo está protegido. E se o condutor bater em outro carro, por exemplo, vai responder civilmente e pode perder outros bens. “O bom é que o seguro também cobre os danos de terceiros, além de atendimentos hospitalares. Por isso, é indispensável contratar um seguro, hoje em dia”, disse o presidente.  

Tendo como exemplo o caso de Paulo, pedreiro citado no início desta reportagem, Otávio faz questão de alertar: “Um acidente pode acontecer em fração de segundos. Por incrível que pareça, estes casos acontecem constantemente. Em Maceió, a nossa Avenida Fernandes Lima é recorde em acidentes”, alerta o presidente do Sincor.

De acordo com Otávio, já existem clientes que primeiro pesquisam o preço dos seguros, para só depois comprar o carro. Ele ainda destaca que o ideal é que se faça o seguro antes mesmo de pegar a chave do veículo. Em alguns planos, no ato do agendamento da vistoria já existe cobertura. “Em seguro, não se pode contar com a sorte”, finalizou.

O diretor financeiro do Sincor-AL, Edmilson Ribeiro, diz que “muito mais do que os gastos, o cidadão deveria aderir ao seguro pela responsabilidade civil e por consciência. Ainda temos muitas pessoas que não têm noção da responsabilidade diante de um acidente de trânsito. O seguro serve para reparar danos que podem acontecer com qualquer um de nós”, destacou o diretor.

Outra questão importante tem a ver com os financiamentos. Se acontecer roubo ou furto de um carro financiado, o banco quer o carro quitado de qualquer jeito. Com o prêmio (indenização) estabelecido na apólice do seguro, o proprietário pode quitar a dívida com o banco, e ainda sobra dinheiro para dar entrada num carro novo.


Mercado em alta

Ainda segundo Edmilson, o mercado de seguros em Alagoas cresce acima da média nacional. Em 2013 o crescimento foi de cerca de 20%, contra 15% do restante do país. Já em 2014, o número se mantém estável. “A economia está estabelecida. Se a inflação permanecer deste jeito, a expectativa é crescer ainda mais. O nordeste tem grandes tendências de ascensão econômica para os próximos anos. Esperamos que este quadro se mantenha”, finalizou o diretor.


Seguros para carros usados

Antes do acidente: Fiat Uno com a placa de venda. 
Foto: Cortesia
Nem sempre é fácil contratar seguro para carros usados. De acordo com Djaildo Almeida, corretor da Jaraguá Seguros e professor do Sincor-AL, algumas seguradoras do estado não aceitam veículos muito antigos ou sucateados. A maioria só trabalha com carros com até dez anos de uso. Este prazo pode ser estendido, se o veículo não tiver itens com danos superiores a 40%. As principais restrições são com carros que já tenham sofrido muitas batidas consecutivas, colisões de frente, sem licenciamento, com pneus carecas, com chassi ilegível ou remarcado. “Diante disso, as chances de se fazer um seguro são muito baixas. As exigências seguem as normas do Código Nacional de Trânsito”, falou o corretor.

No entanto, se o carro já possui seguro há mais de 15 ou 20 anos, nada impede que seja feita a renovação periódica. Uma opção são os seguros específicos, que embora não cubram 100% dos itens, podem fazer toda a diferença. Alguns pacotes protegem contra roubo, danos a terceiros e oferecem prestação de atendimento 24 horas. Nesses casos, as empresas fazem adequações à realidade do cliente e o custo benefício é diferenciado.

Djaildo alerta, ainda, para o cuidado com os seguros ilegais. Segundo ele, muitas “empresas” oferecem vantagens que não podem ser cumpridas, como cobertura de itens que não constam no contrato, ou ainda o pagamento de indenizações acima do valor real. O ideal é pesquisar o cadastro da seguradora na Superintendência de Seguros Privados (Susesp), ou se informar na sede do Sincor-AL. “Se a vantagem oferecida for muito boa, desconfie”, finalizou o corretor.  

O seguro para um Fiat Uno, ano 2006, tem estimativa de custo entre mil e quinhentos e três mil reais. Para isso, o veículo precisa ter a chave codificada, ou seja, só funcionar com as chaves originais. As seguradoras fazem esta exigência para diminuir as chances de roubo. Se o Uno for de 2014, o valor do seguro diminui, fica entre mil e quinhentos e dois mil reais. O Gol, da Volkswagen, está na mesma média. Já o Celta 2014, da Chevrolet, possui condições mais baratas, fica entre mil e quinhentos e mil e setecentos reais.

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