domingo, 21 de abril de 2013

Tiradentes: Um mito planejado pelos intelectuais

Percebemos neste episódio que em nome da liberdade, a opressão se consolidou de forma expressiva
Por Abidias Martins

Ao compreendermos o real propósito da inserção do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, na história do Brasil, percebemos que fomos, por muito tempo, alienados por um sistema político bastante astuto e estratégico.

Com a independência do Brasil e a instauração da República no final do século XIX, o mito Tiradentes tornou-se um episódio relevante para a história do nosso país. A escolha do inconfidente como herói se estabeleceu pela necessidade de se ter um representante, que correspondesse aos interesses da classe dominante da época.

Para os republicanos positivistas o que interessava era que a pessoa escolhida para receber o status de herói, fosse vista como vítima, e que tivesse morrido pelos ideais da nação, ou seja, um mártir. Não cabia, entretanto, neste contexto, alguém que incomodasse, ou que fosse revolucionário. Este fato descartou Frei Caneca de ocupar tal posto, apesar do mesmo ter sido aclamado por muitos como o verdadeiro mártir da Inconfidência Mineira. Será que isto não foi uma maneira de reprimir a revolução, ou ao menos maquiá-la?

Outro fator que merece destaque é a forma de como a imagem de Tiradentes foi projetada pelo pintor Pedro Américo. Um homem com semblante abatido, barbudo, humilhado e morto esquartejado nas mãos de seus inimigos. Isto nos lembra de alguém? Claro, a intenção era fazer com que ao ver Tiradentes, os cidadãos brasileiros, inconscientemente, lembrassem-se de Jesus Cristo, e através da religiosidade que predomina sobre a nação, pudessem vê-lo com olhares piedosos.

Percebemos neste episódio que em nome da liberdade, a opressão se consolidou de forma expressiva.

A frase “Ordem e Progresso”, da Bandeira Nacional, que foi inspirada na bandeira do Império Português, nos remete a uma conclusão e a um questionamento: A ordem é uma imposição regulamentada pelo sistema burguês, que por sua vez defende seus interesses, em outras palavras, para a burguesia, ordem significa enquadramento; e progresso, para quem?

O quadro "Tiradentes esquartejado" (acima), de Pedro Américo, tem a evidente intenção de provocar impacto no espectador, devido à violência da imagem do corpo humano retalhado. Além disso, a presença do crucifixo visa a aproximar explicitamente o sacrifício do personagem da história do Brasil ao de Jesus Cristo. (imagem - uol.com)